A polarização política virou um desafio até mesmo para psicanalistas com uma enxurrada de casos de pessoas sofrendo de estresse causado pelas disputas recentes.
A polarização política tem levado a frequentes discussões e conflitos, que começam nas redes sociais, mas também podem acontecer na rua ou até mesmo dentro de casa, podendo servir de “gatilho” e levar até à casos extremos de violência, dissociação da realidade entre outros tipos de desordens para pacientes com questões prévias.
Em geral, esses conflitos têm gerado um cansaço e desconfiança generalizada em relação à realidade social, e essa situação tem sido chamada de “síndrome do estresse político”. Embora ainda não seja uma condição reconhecida oficialmente pelos manuais de diagnósticos clínicos, os profissionais de saúde mental relatam um aumento nos casos de pacientes que apresentam queixas relacionadas ao processo eleitoral e às emoções negativas geradas pela polarização política.
No Brasil a condição tem sido mais registrada nos consultórios psicológicos desde o acirramento da polarização política nas eleições presidenciais de 2018. Os especialistas identificaram que o fenômeno do ressurgimento de uma direita radical no país, representada atualmente pelos “bolsonaristas” tem sido um fator importante na disseminação da síndrome, notadamente com a intensificação da disseminação de notícias falsas.
De acordo com os especialistas, em virtude do movimento de extrema direita no país ter se atrelado a uma série de problemas políticos e sociais, incluindo a negação da ciência, a violência verbal e física, a intolerância e a polarização política e estes fatores aparecerem como desencadeadores de sintomas como ansiedade, estresse e depressão em muitos brasileiros, pode-se concluir a partir dos primeiros estudos que a síndrome do stress político tem acometido, mais comumente aqueles que se preocupam com questões como meio ambiente, direitos humanos e saúde pública.
No Brasil, ainda não temos dados estatísticos, mas nos Estados Unidos, onde a população vive uma polarização semelhante e que tomou mais força na mesma época, estudos mostram o impacto desse ambiente político radicalizado. O relatório “Estresse na América”, publicado anualmente desde 2007 pela APA (Associação Americana de Psicologia, em português), mostrou que o acirramento observado pelas pesquisas eleitorais nas duas edições que tiveram a participação de Donald Trump levou os eleitores a um nível de estresse elevado. Em 2016, 59% dos republicanos e 55% dos democratas responderam que o período eleitoral era uma fonte de esgotamento. Já em 2020, esse número foi ainda maior: 67% de republicanos e 76% entre os democratas.
Os especialistas recomendam que as pessoas tomem medidas para gerenciar o estresse político, como buscar se informar a partir de meios confiáveis e verificados de notícias, praticar técnicas de relaxamento, como a meditação ou o yoga, e conversar com amigos e familiares sobre preocupações políticas. Além disso, é importante buscar ajuda profissional se os sintomas persistirem ou se você sentir que está perdendo o controle.