Empresa de enorme credibilidade no mercado, PwC, aprovou balanços fraudulentos das Lojas Americanas, assim como atuou na “surpreendente” auditoria que fundamentou a privatização da Eletrobrás
A crise financeira das Lojas Americanas tem revelado novos fatos surpreendentes e chocantes. Desde a última semana, a varejista vive um momento turbulento e está a poucos passos de começar uma batalha judicial. A crise instalada em uma das maiores varejistas do Brasil foi vista como uma surpresa, já que a empresa conta com poderosos acionistas como Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Bruno do grupo 3G Capital.
Não fossem os fatos graves suficientemente, outro ponto tem chamado atenção dentro da narrativa desde a revelação do escândalo: descobriu-se que a PwC, uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, aprovou balanços fraudulentos da varejista brasileira. Especialistas econômicos tem “ligado” vários pontos que causam estranheza quanto aos negócios que envolvem os sócios majoritários da empresa grupo 3G Capital.
Um destes negócios, que é de interesse público e social, se relaciona com a privatização da estatal Eletrobrás, uma vez que a exata mesma auditoria foi responsável por realizar análise na empresa pública indicando uma prejuízo milionário.
Tal fato não seria por si só digno de causar desconfiança no mercado se os principais compradores da venda realizada com a privatização, que teve como base o relatório, não fossem exatamente os sócios das Lojas Americanas, que claramente se beneficiaram de financiamentos públicos, empréstimos além de reputação no mercado meses a fio tendo como base a chancela de uma renomada empresa de auditoria.
Os rombos encontrados nas finanças das Lojas Americanas superam os R$ 40 bilhões, dos quais cerca de 2,4 bilhões têm o BNDES como credor. Já em se tratando da Eletrobrás, após a privatização avalizada pela PwC, a ex-estatal saiu de uma condição de apresentar lucros de quase R$ 1 bilhão no último balanço anterior à privatização, no primeiro trimestre de 2022, para um prejuízo de R$ 88 mil dois trimestres adiante. Além disso, a dívida líquida da empresa também cresceu 75%.
A crise das Lojas Americanas tem sido um verdadeiro terremoto para a economia brasileira. Desde a última semana, a varejista vive um momento turbulento e está a poucos passos de começar uma batalha judicial. A crise instalada em uma das maiores varejistas do Brasil foi vista como uma surpresa, já que a empresa conta com poderosos acionistas como Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Bruno do grupo 3G Capital.
O rombo foi causado pela prática do ‘risco sacado’, que consiste na tomada de financiamento com um banco para o pagamento de fornecedores. A ideia é antecipar os fornecedores para em seguida pagar os bancos. No entanto, no caso das Lojas Americanas, a prática não foi relatada nos balanços.
Este é um caso que está longe de ser resolvido e que tem implicações ainda maiores do que se poderia imaginar. A situação fez com o novo CEO da empresa, Sérgio Rial, renunciasse ao cargo na mesma hora, após apenas 9 dias da sua posse. Para o seu lugar, foi colocado o então diretor de Recursos Humanos da empresa, João Guerra, que não esteve envolvido na gestão financeira da empresa.
No dia seguinte (12) as ações da empresa despencaram 77,3%, fechando o dia a R$ 2,72, no que ficou registrado como a maior queda de uma empresa da Ibovespa em um mesmo dia desde 1994. Nesse momento, além dos bancos credores, também os acionistas da empresa começaram a cobrar medidas de mitigação da crise. Já a sexta-feira 13 ficou conhecida como o ‘dia do terror’ dos credores. Na data, as Lojas Americanas conseguiram uma medida judicial que a protege por 30 dias da execução das dívidas. Ao fim do período, a empresa poderá pedir recuperação judicial.
As ações da empresa então subiram 15% em relação ao dia anterior. Durante o final de semana, o banco BTG Pactual, um dos credores da Americanas, entrou com recurso para derrubar a decisão. Na argumentação, o banco alega que a empresa fraudou seu mercado de crédito. Além disso, também apontou que teve de estornar, por conta da decisão, cerca de R$1,2 bilhão. No bojo do BTG Pactual, outros bancos credores também mostraram-se descontentes e esperam o início de uma batalha judicial a fim de liberar a cobrança antecipada das dívidas. O acordo que os bancos aceitam fazer deve conter a injeção de capital na empresa por meio dos acionistas. A empresa tenta negociar um valor com os bancos antes de pedir recuperação judicial
Resta saber se as questões obscuras sobre a privatização da Eletrobrás serão efetivamente investigadas, ou restarão convenientemente esquecidas sob o tapete do mercado financeiro, que tem humores bastante sensíveis quando a pauta é social, mas ao que parece reage com lapsos de memória quando é útil aos grandes interesses.