Até quando os atos racistas contra o Vini Jr. serão ignorado pelas autoridades da Espanha?
Embora o esporte já tenha representado um meio pelo qual as distorções geradas pelo racismo fossem diminuídas, hoje, vivenciamos notadamente no futebol, situações extremas de discriminação racial.
Ano passado, o jogador brasileiro Vinícius Júnior, do Real Madrid, foi alvo de uma grave ofensa racista por supostos torcedores do Atlético de Madri, havendo sido chamado de “macaco” pela torcida. Mesmo tendo respondido com um belo gol na partida entre os times e uma provocação saudável nas redes sociais, o episódio, somado a outras agressões racistas que ele já tinha recebido na Espanha, demanda respostas mais duras de outras pessoas e entidades.
Desta vez, dada a ausência de punição correta para os atos cometidos, a escalada do racismo tendo o Vini Jr. como alvo ultrapassou tudo o que já havia sido registrado até então no futebol: fanáticos racistas, infiltrados nas torcidas organizadas do Atlético de Madrid resolveram pendurar um boneco negro “enforcado” em uma ponte da cidade vestindo a camisa o nome do jogador. Acima dele, a frase pintada em vermelho: “Madri odeia o Real”.
Poderia até se alegar que se trata apenas de rivalidade entre times, entretanto, ao somar-se ao contexto dos xingamentos racistas anteriores, fica bastante clara a semiótica das punições utilizadas nos enforcamentos da época da escravidão no regime do apartheid por membros da Ku Klux Klan, seita que defendia a supremacia branca.
Segundo o diretor do Observatório Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, Vinícius é vítima de uma verdadeira perseguição na Espanha, e isso é resultado da negligência da Federação Espanhola de Futebol, do governo e demais autoridades do país. Ele afirma que “como da primeira vez que aconteceu ninguém foi punido, as pessoas estão se sentindo cada vez mais à vontade para expressar esse racismo contra o Vinícius Júnior. E vai acontecer de novo se nada for feito.”
Além disso, Carvalho avalia que as agressões sofridas por Vinícius são acima do tom daquelas que se tornaram habituais nos estádios europeus e precisam ser entendidas como uma violência maior que a violência racista, que engloba xenofobia e é resultado de um ódio muito grande dos torcedores rivais contra um atleta negro.
O ex-árbitro Márcio Chagas sugere que os principais jogadores brasileiros engajem em manifestações coletivas duras, como negar-se a jogar no futebol europeu, até que algo seja feito pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), pela La Liga e pela Uefa. Ele lembra que, embora a Fifa tenha criado dispositivos para coibir as manifestações racistas, essas medidas quase sempre recaem sobre os árbitros das partidas, que são majoritariamente brancos.
É de extrema importância que as apurações e devidas punições sejam feitas, para que o bailado do craque nunca seja apagado pela ação do racismo.