O governo dos EUA recebeu com ceticismo a declaração do governo russo de que está examinando a proposta do Brasil para mediar conversas entre russos e ucranianos em busca do fim do conflito.
A declaração do Kremlin de interesse em ouvir as propostas feitas pelo Brasil para mediação do conflito causou espanto no meio internacional.
Foi feita na véspera do primeiro aniversário da invasão russa na Ucrânia, em meio a uma escalada retórica tanto do líder russo, Vladimir Putin, como do presidente americano, Joe Biden, que qualificam a guerra como uma batalha pela sobrevivência tanto da identidade russa como da ordem democrática representada pelos americanos.
O vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, afirmou que estão examinando a iniciativa brasileira, principalmente do ponto de vista da política equilibrada do Brasil, e levando em consideração a situação no terreno.
Entretanto, o Departamento de Estado dos EUA respondeu que a Rússia continua sendo o único obstáculo à paz na Ucrânia e que não vê nenhuma indicação de que o presidente Putin tenha interesse em uma diplomacia significativa no momento.
O ex-embaixador americano no Brasil e ex-subsecretário de Estado Thomas Shannon afirmou que o governo Biden não vê Putin pronto para negociar nada e que há um grau de ceticismo em relação à sugestão do Brasil de criar um grupo de mediadores mais neutros.
O presidente Lula tem tentado um equilíbrio entre a condenação à invasão russa e o não envolvimento, nem mesmo indireto, no conflito para tentar lançar o que tem chamado de “clube da paz”. A ideia seria contar com países como a China e a Índia no clube. Em janeiro, a gestão Lula recusou um pedido da Alemanha para ceder ou vender munições para tanques que seriam repassados para a Ucrânia.
Em visita à capital americana, no começo de fevereiro, Lula reafirmou ao presidente americano Joe Biden que defende a integralidade territorial ucraniana, mas que pretende manter posição de neutralidade para tentar liderar o “clube da paz” e inaugurar diálogo entre os dois lados.
A proposta brasileira foi recebida com respeito por Biden, que assegurou a Lula que todos querem o fim da guerra. Os americanos também apreciam o fato de que o Brasil tem condenado a invasão russa em ambientes multilaterais – o que se repetiu quando o país votou a favor da condenação da ação militar da Rússia na Assembleia Geral da ONU mais uma vez, enquanto os demais integrantes dos BRICS se abstiveram.
O Brasil assume a presidência do G-20 no próximo ano e tenta fazer do fim do conflito uma de suas principais missões internacionais.