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Do açoite à palavra: Consciência Negra e a força do protagonismo preto no Brasil

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No Vejaparaiba.com.br, o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é mais do que uma data no calendário nacional. É um chamado à memória e à responsabilidade diante de um passado marcado por mais de três séculos de escravidão no Brasil, o último país do Ocidente a abolir oficialmente essa prática, sem reparar de forma efetiva as vidas destruídas e as desigualdades que permanecem até hoje.
Como destaca o escritor Laurentino Gomes, autor de uma trilogia dedicada à escravidão, esse sistema não foi um capítulo lateral, mas o eixo em torno do qual se estruturaram a economia, a organização social e as relações de poder no país. Mesmo após a assinatura da Lei Áurea, em 1888, a escravidão se reinventou em novas formas de exclusão, racismo estrutural, violência e falta de acesso a direitos básicos.
A história da população negra no Brasil, no entanto, não se resume à dor. Desde os porões dos navios negreiros e das senzalas, homens e mulheres negros resistiram, preservaram suas espiritualidades, culturas, línguas, saberes e estéticas. A despeito da tentativa sistemática de apagamento, a presença africana e afro-brasileira moldou profundamente a identidade nacional, da culinária à música, da religiosidade à linguagem, das festas populares às formas de organização comunitária.

No século 21, essa trajetória de resistência ganha contornos ainda mais visíveis de protagonismo. A população negra, que historicamente foi empurrada para as margens, ocupa cada vez mais espaços de decisão, de produção intelectual, artística, científica e política. Jovens negros e negras chegam às universidades, conquistam títulos acadêmicos, assumem a cena cultural, comandam pesquisas, lideram movimentos, empreendem e reivindicam o direito de contar a própria história.

Na literatura, esse movimento de resgate e afirmação da memória negra é exemplar. A escritora Ana Maria Gonçalves, primeira mulher negra da Academia Brasileira de Letras, é autora do premiado romance Um defeito de cor, obra que reconstrói a trajetória de uma mulher africana escravizada e traz para o centro da narrativa uma personagem negra que atravessa o oceano, a violência e o preconceito sem jamais abrir mão de sua humanidade. Ao transformar dor em palavra, silêncio em voz e ausência em presença, a autora reafirma a importância da memória como ato político.

Ao discutir a escravidão, o racismo e suas permanências, autores como Laurentino Gomes e Ana Maria Gonçalves contribuem para desmontar mitos sobre uma falsa harmonia racial e evidenciam a necessidade de políticas públicas voltadas à equidade, à reparação histórica e ao combate efetivo ao racismo em todas as esferas. Ainda hoje, os indicadores sociais mostram que é sobre os corpos negros que recai, de forma desproporcional, o peso da violência, do desemprego, da fome, da falta de acesso à educação de qualidade e à saúde.
Celebrar o Dia da Consciência Negra é, portanto, reconhecer a dívida histórica com a população negra, enfrentar o racismo estrutural, valorizar a intelectualidade e a produção cultural negra e apoiar iniciativas que ampliem oportunidades e garantam igualdade de direitos. Mais do que homenagear personagens e datas, é assumir um compromisso diário com um país em que a cor da pele não determine o lugar que cada pessoa ocupa.

No livro Um defeito de cor, Ana Maria Gonçalves sintetiza a força dessa caminhada ao escrever: “Escrever é uma forma de lembrar, e lembrar é uma forma de nunca mais aceitar as correntes.” – Ana Maria Gonçalves, em Um defeito de cor.

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