Seria uma nova versão das lutas dos gladiadores romanos? O jogo sul-coreano que leva o “Round 6” da vida real para o extremo. Por qual razão ainda nos sentimos atraídos por assistir sofrimento?
A Batalha dos 100 é um programa de televisão sul-coreano de sobrevivência que tem atraído grande sucesso de audiência em todo o mundo. O programa, que ocupa o primeiro lugar de audiência na Netflix, mostra 100 participantes competindo pelo título de “físico perfeito”, com o último remanescente recebendo o prêmio de 300 milhões de wons (cerca de US$ 230 mil, ou R$ 1,2 milhão).
Embora alguns espectadores tenham notado semelhanças com a série Round 6, também coreana, A Batalha dos 100 é um programa único, diferente de tudo o que havia sido visto antes: um formato mais simples de corpos seminus lutando entre si, não importando a idade, gênero ou etnia.
O programa foi criado por Jang Ho Gi, produtor de uma das principais emissoras de TV da Coreia do Sul, que passou toda a carreira fazendo documentários. A experiência do seu criador na produção de documentários fez com que A Batalha dos 100 mantivesse um enfoque muito concentrado na ação principal, com mais de 200 câmeras capturando cada detalhe dos movimentos corporais dos participantes. O programa não tem apresentador nem um quadro de celebridades, o que foi intencional e é outro elemento característico da série.
Embora a série tenha atraído grande sucesso internacional, ela não é transmitida na Coreia. Como emissora pública, a MBC, coprodutora do programa, precisaria ocultar todas as tatuagens dos participantes, seguindo a prática de não perturbar alguns espectadores, e eliminar ou omitir palavrões pronunciados com frequência durante os desafios.
A tatuagem é vista com desconfiança na Coreia, sendo fortemente associada a quadrilhas ou crime no passado. Além disso, apenas médicos podem atuar como tatuadores legalmente.
Através da análise do comportamento humano percebemos que a fórmula utilizada para captação da audiência neste tipo de seriados se dá em função da busca por experiências emocionais intensas. Esses programas costumam desafiar os limites físicos e mentais dos participantes, colocando-os em situações extremas de privação e risco.
Oferecendo ao público a possibilidade de vivenciar experiências emocionais intensas e extremas, sem precisar correr riscos reais, além de torcer, no mesmo estilo do que era feito nas lutas de gladiadores romanos, por aquele participante com o qual mais identifiquem nuances que os espelhem ou causem admiração.
Além disso, a exposição ao sofrimento dos participantes pode gerar uma sensação de empatia e solidariedade, criando um senso de comunidade entre os espectadores.
Também é importante considerar que esses programas são construídos a partir de narrativas dramáticas e conflitos interpessoais, que capturam a atenção dos espectadores e geram engajamento emocional. A competição entre os participantes e as estratégias utilizadas para sobreviver são elementos que criam tensão e expectativa no público.
Resta-nos colocar em debate quais valores reais estão sendo transmitidos ao público, e até que ponto há benefício na oferta da disputa esvaziada da crítica, como estava presente no seriado Round 6.