Início Brasil Adeus ao Feiticeiro dos Sons: morre Hermeto Pascoal, o imenso criador brasileiro

Adeus ao Feiticeiro dos Sons: morre Hermeto Pascoal, o imenso criador brasileiro

Hermeto deixa mais de dez mil composições e um legado inventivo que transformou a música mundial.

Faleceu neste sábado, aos 89 anos, o mestre Hermeto Pascoal, o “Feiticeiro dos Sons” e “Gênio Louco” da música brasileira. Surpreendeu o mundo com seu estilo original, vibrante e profundamente inventivo. Uma despedida digna de seu legado extraordinário.

O anúncio da morte foi feito pela família nas redes sociais, informando que Hermeto passou para o plano espiritual, rodeado de familiares e músicos. A notícia rapidamente reverberou em tributos emocionados. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que a música e cultura do Brasil devem muito a Hermeto Pascoal, ressaltando seu talento e influência global. Caetano Veloso o definiu como um dos mais altos pontos da história da música no Brasil.

Informações oficiais sobre o velório e homenagens públicas ainda serão divulgadas pelos canais da família.

Nascido em 22 de junho de 1936, em Lagoa da Canoa (Alagoas), Hermeto era albino — condição que o livrou do árduo trabalho rural na infância e o conduziu à música, aprendendo sozinho a tocar a sanfona do pai. Autodenominou sua forma de compor como “música universal”: fluida, sem rótulos, mesclando jazz, samba, chorinho, forró, MPB e experimentação sonora.

Hermeto era multi-instrumentista: dominava piano, flauta, acordeão, saxofone, guitarra e outros instrumentos. Chegou a usar objetos inusitados — desde panelas, brinquedos, chifres, cerâmica e até leitões vivos — como parte de sua arte, sempre surpreendendo e redefinindo o conceito de música. No álbum *Slaves Mass* (1977), por exemplo, ele introduziu o som de um leitão para abrir uma faixa, resultando em uma das capas mais icônicas de sua discografia.

Sua carreira internacional brilhou ao lado de grandes nomes. Nos anos 1960, Airto Moreira o levou para os Estados Unidos, onde conheceu Miles Davis e participou do álbum *Live‑Evil* (1971). Diz-se que Davis o considerava “o músico mais impressionante do mundo”. Hermeto seguiu se apresentando por todo o planeta, incluindo festivais na Europa, como o Festival de Jazz de Pori, na Finlândia, e memoráveis apresentações em Londres até os 80 anos.

Hermeto compôs mais de 10 mil obras ao longo da vida. Costumava dizer que qualquer suporte era válido para a criação musical: “o que escrevo num vaso sanitário é tão importante quanto o que escrevo num papel, pois música é sagrada”. Em 2024, recebeu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Jazz Latino com *Pra Você, Ilza*, uma homenagem à esposa Ilza, com quem foi casado por mais de 46 anos e teve seis filhos. Em 2025, foi eleito Melhor Artista Instrumental no Prêmio da Música Brasileira.

Em vida, Hermeto dizia que nasceu música: “Não fiz nada sem música”, e acreditava que até uma chaleira poderia se tornar um instrumento, defendendo uma filosofia sonora inclusiva e sem fronteiras.

Hermeto Pascoal deixa um legado único: incontáveis composições, uma visão musical sem limites, ousadia artística e inventividade surreal. Ele redefiniu a música brasileira e a expandiu para o mundo com sua energia, curiosidade e liberdade criativa. Sua herança vive em suas obras, nos discos, nas notas que vibram até hoje e nos artistas que ele inspirou. Que cada improviso, cada som inusitado e cada melodia sejam sempre uma celebração à vida do Feiticeiro dos Sons.

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