Na madrugada de sábado, Jair Bolsonaro pegou um ferro de solda e tentou, literalmente, queimar a tornozeleira eletrônica que usava desde agosto. O aparelho registrou a violação às 0h08, entrou em pane térmica e precisou ser trocado às pressas. Horas depois, Alexandre de Moraes decretou a prisão preventiva do ex-presidente. O que poderia ser apenas mais um capítulo bizarro da saga judicial de Bolsonaro ganhou contornos ainda mais graves quando ele próprio admitiu o ato à Polícia Federal, alegando “curiosidade”.
Do ponto de vista jurídico, a tentativa de romper o equipamento é uma confissão cristalina de descumprimento de medida cautelar. A lei é clara: quem viola monitoramento eletrônico perde o direito a qualquer benefício alternativo à prisão, inclusive a domiciliar com tornozeleira – exatamente o que a defesa vinha pedindo ao STF, usando a idade avançada (70 anos) e os problemas de saúde como argumento. Com um único golpe de ferro quente, Bolsonaro enterrou essa estratégia. Advogados criminalistas ouvidos por grandes portais são unânimes: o gesto pode configurar dano qualificado ao patrimônio público e até obstrução de justiça, abrindo novas frentes de investigação e agravando penas futuras.
Mas o episódio vai além da imprudência jurídica e entra no terreno da saúde mental. Pessoas próximas relatam que Bolsonaro vinha apresentando oscilações intensas de humor, insônia crônica e episódios de irritabilidade extrema desde a imposição da tornozeleira. Especialistas em psiquiatria forense consultados informalmente não descartam a hipótese de um surto psicótico agudo ou um impulso autodestrutivo consciente: ele sabia que qualquer tentativa de retirada dispararia alarmes imediatamente e sepultaria de vez a chance de prisão domiciliar. Mesmo assim, agiu. Para alguns, foi um grito de desespero de alguém que se sente encurralado; para outros, um ato deliberado de quem prefere a cadeia comum a continuar carregando o símbolo visível de sua derrota.
O resultado prático é devastador. A defesa, que tinha até domingo para justificar o ocorrido, agora trabalha com um fato consumado que reforça a tese de risco de fuga e reiteração delitiva – os dois maiores obstáculos à concessão de qualquer regime mais brando. Políticos aliados já falam em “mártir”, enquanto adversários celebram o que chamam de “autogolpe contra si mesmo”.

