Anunciado como um dos espaços educacionais e culturais mais modernos da Paraíba, o novo Cine Capitólio, em Campina Grande, já tem data para ser entregue: maio de 2026, antes do São João. A obra é apresentada como vitrine tecnológica e símbolo de investimento na educação municipal, mas o discurso oficial omite pontos essenciais sobre custos, manutenção e impacto real na rede de ensino, que ainda enfrenta problemas básicos.
Segundo a gestão municipal, o equipamento será voltado prioritariamente aos estudantes da rede pública, com cinema, anfiteatro para formação de profissionais da educação, salas multifuncionais e a maior biblioteca da educação municipal. No entanto, não foram divulgados com transparência o orçamento total, as fontes de financiamento e os gastos futuros com operação. Em um cenário de escolas com estrutura precária, merenda irregular e déficit de professores, especialistas questionam se a prioridade deveria ser um grande centro de referência ou a melhoria do que já existe.
Outro ponto pouco debatido é a acessibilidade prática do Cine Capitólio para todos os alunos. Não há detalhamento sobre transporte escolar até o local, frequência de uso por cada unidade de ensino e critérios de agendamento. Sem um plano consistente, há risco de o espaço se tornar mais um cartão-postal usado em datas especiais, em vez de instrumento cotidiano de aprendizagem. Técnicos em políticas públicas alertam que grandes obras costumam gerar visibilidade política, mas nem sempre se convertem em ganhos reais de aprendizagem ou redução das desigualdades educacionais.
A promessa de tecnologia de ponta também exige atenção. Equipamentos modernos demandam manutenção constante, equipe especializada e orçamento contínuo. Sem isso, projetores, sistemas de som e acervos digitais podem ficar rapidamente obsoletos, repetindo o histórico de laboratórios de informática e bibliotecas que foram inaugurados com festa e, anos depois, ficaram fechados por falta de recursos. A inauguração do Cine Capitólio, portanto, precisa ser acompanhada de transparência, planejamento e controle social, sob risco de se tornar mais um símbolo do marketing de obras, e não da transformação efetiva da educação em Campina Grande.

