A operação localizou gravação de reunião ocorrida em 2020, com a participação do general Heleno, em que teria sido discutida estratégia para anular investigação que colocou filho do ex-presidente sob suspeita e até a ‘retirada de alguns auditores de seus respectivos cargos.
A Polícia Federal (PF) revelou na última quinta-feira (11) detalhes impactantes da Operação Última Milha, que investiga um esquema de espionagem ilegal envolvendo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O caso, conhecido como Abin Paralela, expõe irregularidades graves no uso dos sistemas da agência durante o governo de Jair Bolsonaro. A operação, que começou em 2023, resultou na prisão de vários envolvidos e continua a desenvolver novas informações sobre o escândalo.
A investigação da PF aponta que a Abin foi usada para monitorar pessoas ligadas a investigações sobre os familiares do ex-presidente Jair Bolsonaro. Os auditores da Receita Federal, que contribuíram para a investigação do esquema de “rachadinha” envolvendo Flávio Bolsonaro, foram alvos do monitoramento. Marcelo Bormevet e Giancarlo Rodrigues, envolvidos em ações clandestinas da Abin, tentaram desestabilizar auditores e criar evidências favoráveis a Jair Renan Bolsonaro, que estava sob investigação por tráfico de influência.
A PF descobriu que o esquema da Abin Paralela também incluiu ações para desacreditar ministros do STF e atacar a integridade do sistema eleitoral. Dossiês falsos e fake news foram criados para comprometer a imagem dos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. A operação visava enfraquecer a credibilidade das instituições judiciais e eleitorais por meio da disseminação de desinformação.
A Abin Paralela também foi usada para atacar o senador Alessandro Vieira, que presidia a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. A CPI investigou possíveis irregularidades no governo Bolsonaro relacionadas à pandemia. Os envolvidos na operação criaram e disseminaram desinformação sobre Vieira, visando desacreditar o senador e a CPI, conforme revelado em diálogos interceptados pela PF.
Os investigadores descobriram que alguns dos indivíduos envolvidos tinham conhecimento de uma “minuta do golpe“, que circulou durante o governo Bolsonaro. Mensagens interceptadas indicam que esses policiais federais estavam cientes de planos para possíveis ações anticonstitucionais, ligadas à tentativa de ruptura democrática.
O esquema de espionagem ilegal afetou uma ampla gama de pessoas, incluindo ministros do STF, parlamentares, auditores fiscais e jornalistas. Entre os espionados estavam figuras proeminentes como o ministro Alexandre de Moraes e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. A PF realizou prisões e cumpriu mandados de busca e apreensão em várias cidades, incluindo Brasília e São Paulo. Foram presos Marcelo Bormevet e Giancarlo Rodrigues, entre outros, enquanto outros dois indivíduos ainda são procurados.
A Operação Última Milha continua a investigação e revela uma série de possíveis crimes, incluindo organização criminosa e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. Os ex-dirigentes da Abin e o ex-presidente Jair Bolsonaro não foram alvos da operação atual e ainda não comentaram as acusações.
Integrantes do PL afirmam que Jair Bolsonaro ficou “irritado” com o fato de o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) ter guardado um áudio com conversa da qual participou o ex-presidente sobre uma possível “blindagem” ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Durante a investigação sobre a “Abin paralela“, a Polícia Federal (PF) recuperou um arquivo no celular do ex-diretor da agência com a gravação de uma reunião em que foi debatida uma estratégia contra auditores da Receita que atuaram no caso da rachadinha do filho do ex-presidente.