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Motoristas em greve expõem desafios do transporte público em João Pessoa

A segunda-feira (27) amanheceu caótica para quem depende do transporte público em João Pessoa. Os motoristas de ônibus, em greve desde as primeiras horas do dia, realizaram uma paralisação que impactou diretamente a vida de cerca de 100 mil pessoas. A assembleia da categoria decidiu que os trabalhadores devem seguir juntos para a audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho, em busca de avanços nas negociações com o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de João Pessoa (Sintur-JP). Enquanto isso, a cidade sente o peso de um sistema de transporte que já dava sinais de colapso antes mesmo da greve.

Um sistema à beira do colapso

A paralisação, iniciada por volta das 4h30, é mais um capítulo de uma crise anunciada. Apesar de uma determinação judicial que exige a circulação de 60% da frota – o equivalente a 252 dos 420 ônibus operacionais –, o presidente do Sintur, Isaac Júnior, acusa os motoristas de bloquear a saída dos veículos nas garagens. O sindicato dos motoristas, por sua vez, rebate, afirmando que os ônibus estão saindo de forma lenta, mas seguem circulando. O resultado? Paradas de ônibus lotadas, passageiros frustrados e uma cidade que, mais uma vez, se vê refém de um transporte público insuficiente.

Adriana, uma passageira que aguardava na parada final da linha 301, em Mangabeira V, desde as 4h30, resumiu o sentimento de muitos: “A passagem subiu para R$ 5,20, e os motoristas têm os direitos deles. Disseram que os ônibus iriam circular, mas nenhum passou. Estou aqui há mais de duas horas esperando.”

Reivindicações legítimas e descaso histórico

Os motoristas pedem um reajuste salarial de 15%, enquanto o sindicato patronal oferece apenas 3%. Além disso, a categoria exige o retorno do vale-alimentação, suspenso desde 2019, e o fim das jornadas duplas, uma prática que sobrecarrega os trabalhadores e compromete a qualidade do serviço prestado à população.

O aumento da tarifa para R$ 5,20, implementado no último dia 13 de janeiro, é um ponto de tensão adicional. Enquanto os usuários arcam com um custo mais alto, os motoristas não viram esse reajuste se traduzir em melhorias salariais ou nas condições de trabalho. O Sintur-JP, por sua vez, argumenta que as empresas enfrentam dificuldades financeiras para manter as operações sustentáveis – um discurso que soa vazio diante do sofrimento diário dos trabalhadores e passageiros.

O papel do poder público e da sociedade

A Prefeitura de João Pessoa, por meio da Semob, informou que está monitorando a situação e ajustando as operações para minimizar os transtornos. Mas será que isso é suficiente? O transporte público da cidade tem sido tratado como um problema secundário, quando deveria ser prioridade para garantir a mobilidade e a dignidade dos cidadãos.

A greve dos motoristas não é apenas um embate entre sindicatos; é um reflexo de um sistema que precisa de mudanças estruturais urgentes. Reajustes tarifários, promessas não cumpridas e a falta de diálogo efetivo transformaram o transporte público em um campo de batalhas constantes, onde quem perde, invariavelmente, é a população.

O que esperar da audiência de conciliação?

A audiência de conciliação prevista para esta segunda-feira é um momento decisivo. Além dos sindicatos, o Ministério Público do Trabalho também estará presente, e a sociedade espera que a negociação traga soluções concretas. Mas a verdade é que, enquanto os interesses econômicos das empresas continuarem sendo colocados acima das necessidades dos trabalhadores e passageiros, pouco mudará.

O transporte público de João Pessoa precisa de uma reformulação completa, que inclua investimento, planejamento e diálogo real entre todas as partes envolvidas. Até lá, os motoristas continuarão em greve, os passageiros continuarão esperando nas paradas lotadas, e João Pessoa continuará refém de um modelo que não funciona.

Na VEJA PARAÍBA, seguimos acompanhando os desdobramentos dessa situação e dando voz àqueles que mais sofrem com o descaso: os trabalhadores e os cidadãos de nossa capital.

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