Brasília, 24 de novembro de 2025 – Em um movimento que agrava o já tenso relacionamento entre o Executivo e o Legislativo, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou nesta segunda-feira o rompimento definitivo com o líder do PT na Casa, Lindbergh Farias (PT-RJ). A declaração, dada em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, foi categórica: “Não tenho mais interesse em ter nenhum tipo de relação com o deputado Lindbergh Farias”. A partir de agora, segundo aliados de Motta, a interação entre os dois será estritamente institucional, sem qualquer interlocução política.
O episódio, que ganhou as manchetes ao longo do dia, ecoa um padrão de atritos no Congresso Nacional. Nos últimos três dias, desde 21 de novembro, discussões acaloradas nas redes sociais e em reuniões de líderes da Câmara já sinalizavam o desgaste. Postagens no X (antigo Twitter) de influenciadores ligados ao PT acusaram Motta de facilitar a suposta “fuga” do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) para os Estados Unidos, com chip internacional aprovado pela Casa e voto remoto registrado de Miami. Essas narrativas, vistas como “fake news” pelo entorno de Motta, foram a gota d’água para o paraibano, que já expressava insatisfação pública com o petista.
O contexto imediato do rompimento remete à tramitação do Projeto de Lei Antifacção (PL 3.057/2024), aprovado na Câmara em 18 de novembro – data que antecede o período solicitado, mas cujas repercussões dominaram os debates recentes. O texto, que endurece penas para crimes organizados, recebeu críticas veementes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o acusou de enfraquecer a Polícia Federal ao transferir competências para a Polícia Civil. Motta rebateu duramente, afirmando em postagem no X que o governo “optou pelo caminho errado ao não compor essa corrente de união para combater a criminalidade” e acusou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de disseminar “falsas narrativas” sobre o projeto. Lindbergh, por sua vez, liderou a oposição petista à matéria, judicializando decisões da Câmara no Supremo Tribunal Federal (STF) – apelido irônico de “procurador da Câmara” que ganhou força entre opositores.
Nos bastidores, o descontentamento de Motta com Lindbergh acumula-se há meses. Líderes do Centrão, bloco majoritário na Câmara, relatam queixas recorrentes sobre a postura “exaltada” do petista em reuniões, com tentativas de desgastar a imagem da Casa perante a opinião pública. Episódios como a derrubada do decreto presidencial que alterava alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), em junho, e a recusa em avançar com MPs fiscais do governo também pesaram na balança. “O clima entre os parlamentares e o Planalto é muito ruim”, confidenciou um cardeal do Centrão ao Valor Econômico, citando descumprimento de acordos em cargos, execução orçamentária baixa e pautas travadas.
A resposta de Lindbergh não demorou. Em postagem no X, o deputado fluminense qualificou a atitude de Motta como “imatura”, afirmando: “Sempre atuei de forma clara e com posições coerentes, nunca na surdina e erraticamente, como agiu o presidente da Câmara”. Ele relembrou a votação do PL Antifacção e a derrubada do IOF, negando envolvimento direto com as postagens sobre Ramagem e atribuindo o rompimento a “outras razões” internas ao PT. Interlocutores do líder petista, no entanto, veem o episódio como parte de uma “crise de confiança” maior com Motta, agravada pela escolha do relator do PL, o deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de Segurança de São Paulo e aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) – potencial adversário de Lula em 2026.
O timing do anúncio não poderia ser pior para o governo. No Senado, o presidente Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) já havia rompido com o líder governista Jaques Wagner (PT-BA) após a indicação de Jorge Messias para o STF, contrariando a preferência por Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Alcolumbre retaliou pautando projetos antipáticos ao Planalto, como a aposentadoria especial de agentes de saúde. Aliados de Motta negam rompimento com a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), mas admitem que até essa ponte está abalada.
Nas redes, o burburinho foi imediato. Perfis como @republiqueBRA e @ColunaCH destacaram o “rompimento” como sinal de “guerra morna” no Congresso, com mais de 180 curtidas e reposts em poucas horas. Críticos do PT, como @AlmirFornari, celebraram: “Hugo Motta humilha Lindbergh Farias! O Centrão está em guerra contra o PT”. Do outro lado, petistas como @ganadevitoriapt clamam por “cassação” de Motta, chamando-o de “inimigo do povo”.
Analistas políticos alertam para impactos concretos. A aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026 e pautas fiscais do ajuste econômico de Haddad podem emperrar. “Política não é clube de amigos”, rebateu Lindbergh, ecoando o pragmatismo petista. Motta, por sua vez, reforça a independência da Câmara: “Vamos continuar votando do jeito que o Brasil precisa”, disse em vídeo viralizado no X desde 21 de novembro.
Esse é o segundo rompimento de peso em 2025 entre comandos do Congresso e figuras do governo Lula, lembrando o episódio de abril de 2024, quando Arthur Lira (PP-AL) chamou o então ministro Alexandre Padilha de “incompetente”. Com o Centrão no comando, o Planalto enfrenta um Congresso mais assertivo, onde barganhas por cargos e emendas não bastam para blindar pautas. Resta saber se esse “ponto de virada”, como descreve Alcolumbre internamente, pavimentará um 2026 de maior polarização ou forçará negociações urgentes no Palácio do Planalto.

